Nesse texto vou
desenvolver algumas ideias que já citei de passagem no texto de apresentação
desse blog. Por isso, me desculpo desde já se parecer repetitivo em alguns
pontos. Dentre muitas outras coisas, algo que tem me incomodado bastante nas
redes sociais é ver como o brasileiro tem se contentado com análises
superficiais e respostas fáceis para qualquer assunto. Pode ser a análise de um
filme, de um livro ou da situação política, econômica e social do país. As
análises que vemos são, na maioria das vezes, as mais superficiais possíveis. O
camarada vê um post sobre o assunto do
dia e imediatamente, sem parar para pensar cinco minutos, solta um comentário
que é o mais superficial possível. Geralmente, repetindo preconceitos ou
bobagens que ele ouviu por aí ou que a cabeça fértil dele inventou.
Acredito que
alguns fatores concorrem para essa atitude. A primeira é uma certa dose de
indigência mental ou, dito de outra forma, de preguiça de pensar. Nas redes
sociais assim como fora delas, o brasileiro médio tem o hábito de emitir juízos
sem nem ao menos saber do que está falando. Tem preguiça de ler, de se informar
e, principalmente de pensar sobre os problemas. Em vez de correr atrás da
informação, prefere que o Jornal Nacional mastigue os problemas para ele. Para
que, tomando aquilo como “a verdade dos fatos”, possa emitir um juízo
superficial e uma resposta fácil sobre o problema. Seja ele qual for. A segunda
é uma atitude conformista frente aos problemas. A naturalização das coisas.
Como se não valesse a pena perder tempo pensando ou falando sobre algo que não
pode ser mudado. A terceira é a facilidade de dar opiniões propiciada pelas
redes sociais. Nas redes sociais eu não preciso debater sobre aquilo que afirmo
se eu não quiser. Porque, na verdade, eu não estou falando com ninguém em
particular e com todo mundo ao mesmo tempo. Eu estou apenas digitando uma frase
no meu teclado. Por mais que pareça, a interação virtual não é como uma
interação real. Especialistas no assunto já chamaram bastante a atenção para a
diferença de comportamento no ambiente virtual e no ambiente real.
Essa conjunção de fatores é a maior responsável pelos muitos juízos preconceituosos que vemos diariamente nas redes sociais. No ambiente virtual, na maior parte das vezes, eu posso evitar as consequências dos juízos que emito. Eu não preciso justificar minha opinião. Posso apenas emiti-la e mudar de página ou desligar o computador. E se alguém questioná-la, digo que é a minha opinião e pronto. Como fez o piloto coxinha da Avianca nessa semana, que conseguiu ofender 53 milhões de pessoas ao mesmo tempo, afirmando que o Nordeste é um "lugar escroto com um povo nojento". Obviamente que ele só escreveu isso porque não estava cara a cara com nenhum nordestino. Porém, parece esquecer que seria lido por muitos. Inclusive por alguns colegas de trabalho. Nesse caso específico, porém, assim como no caso da professora da PUC-Rio que se incomodou com um passageiro de chinelo e bermuda no aeroporto do Rio, creio que essas pessoas terão que arcar com as consequencias daquilo que disseram:
Essa conjunção de fatores é a maior responsável pelos muitos juízos preconceituosos que vemos diariamente nas redes sociais. No ambiente virtual, na maior parte das vezes, eu posso evitar as consequências dos juízos que emito. Eu não preciso justificar minha opinião. Posso apenas emiti-la e mudar de página ou desligar o computador. E se alguém questioná-la, digo que é a minha opinião e pronto. Como fez o piloto coxinha da Avianca nessa semana, que conseguiu ofender 53 milhões de pessoas ao mesmo tempo, afirmando que o Nordeste é um "lugar escroto com um povo nojento". Obviamente que ele só escreveu isso porque não estava cara a cara com nenhum nordestino. Porém, parece esquecer que seria lido por muitos. Inclusive por alguns colegas de trabalho. Nesse caso específico, porém, assim como no caso da professora da PUC-Rio que se incomodou com um passageiro de chinelo e bermuda no aeroporto do Rio, creio que essas pessoas terão que arcar com as consequencias daquilo que disseram:
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/03/piloto-que-xingou-nordestinos-e-demitido-da-avianca.html
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/02/professora-da-puc-que-humilhou-passageiro-e-afastada-de-cargo.html
De todos os juízos que podemos fazer sobre alguma coisa/pessoa, o juízo estético é o mais superficial. Para dizer que uma coisa ou uma pessoa é bonita ou feia não precisamos mais do que alguns segundos olhando para ela. Não é preciso ter contato algum de nenhuma outra espécie com aquilo: não é preciso saber quem é aquela pessoa, o que ela faz, para que serve aquele objeto, etc. Nada disso. Basta pousar o olhar e emitir o julgamento: me agrada ou não. Por isso, sempre digo que chamar uma pessoa de bonita é o elogio mais superficial que você pode fazer a ela. Qualquer outro juízo sobre aquela pessoa ou coisa demanda um contato mais próximo e alguns minutos de reflexão. Para saber se uma pessoa é legal ou chata você precisa conversar um pouco com ela ou, ao menos, ouvi-la falar. Para saber sobre o seu caráter, você tem que observar o seu comportamento e comparar com seus próprios valores morais. Para saber se determinada coisa é funcional você tem que saber para que serve e tentar utilizá-la. São juízos que demandam um pouco mais de esforço daquele que o emite. E, talvez por isso, juízos estéticos é o que mais vemos nas redes sociais. E raramente algo além disso. É bonito ou é feio e pronto! E, obviamente, não me refiro aqui à bonito ou feio como expressão de valores morais, como faziam os gregos clássicos. Apenas juízo estético e mais nada.
Como o caso da
reforma do Maracanã, que comentei nesse post. Nas discussões que li nas
redes sociais vi muita gente aprovando as obras porque o estádio estava ficando
bonito. Então, é isso que importa ao fim e ao cabo? Se vai ficar bonito ou não?
Não importa discutir se a obra, feita com dinheiro público, era necessária
(sempre vale a pena lembrar que o que é público é de todo mundo, meu e seu. E
não de ninguém, como muitas pessoas acham). Se o orçamento apresentado para a
obra condiz com o que estava sendo efetivamente realizado. Se as obras estavam
respeitando a condição do estádio de patrimônio cultural tombado, etc. Ou seja,
o simples juízo estético exclui uma série de outras questões muito mais
importantes na compreensão do problema.
Do pouco que
absorvi da minha fracassada graduação em Filosofia, o legado mais importante
talvez tenha sido o hábito de pensar profundamente sobre os assuntos. Qualquer
assunto! Tive uma professora no primeiro período de faculdade (quando eu ainda
prestava atenção nas aulas. Ou melhor, quando eu ainda ia às aulas e não ficava
no bar em frente à Universidade) que dizia que o filósofo não é aquele sujeito
com a cabeça na lua, que quando anda na rua não vê o bueiro aberto na sua
frente e cai dentro dele. E sim aquele sujeito que está antenado com o que
acontece na sociedade à sua volta e pensa radicalmente sobre tudo o que vê. Ou
seja, que procura chegar à raiz dos problemas.
Talvez por isso, esse hábito de emitir opiniões e juízos sem pensar e
sem se informar me incomode tanto. Na nossa sociedade atual, pelo contrário,
esse cara é o chato. É aquele sujeito que insiste nos assuntos. Que sempre tem
um novo argumento. Que acredita que ainda não foi dito tudo seja lá sobre o que
for. Que acha há sempre algum aspecto que ainda não foi considerado. Em vez de
ser encarado como o sujeito que pode te fazer pensar sobre novos assuntos, que
pode te fazer olhar as coisas por um ângulo novo, o filósofo é visto na nossa
sociedade como o chato verborrágico. Aquele que deveria calar a boca porque
ninguém está prestando atenção nele. Ele
incomoda porque nos força a deixar de lado, mesmo que por alguns momentos, a
nossa indigência mental. Nos obriga a pensar. E pensar dói. Principalmente para
aquelas pessoas que não estão acostumadas.
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