Quando você pensa que nada mais pode te surpreender, você sempre
se depara com alguma coisa nas redes sociais que te faz perceber que o fundo do
poço é muito mais embaixo. Já foi ruim saber, pela primeira divulgação dos
resultados de uma pesquisa sobre a violência contra a mulher feita pelo IPEA
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que mais de 60% da nossa sociedade acha que mulher que
usa roupa curta merece ser estuprada. Pior ainda foi a correção posterior dos resultados pelo
mesmo Instituto, onde aqueles 60% se transformaram em 26%. Correção que, na
verdade, não muda nada, tornando a emenda pior do que o soneto (e que,
sinceramente, me pareceu muito mais motivada pela repercussão negativa da primeira
divulgação do que pela necessidade de corrigir um erro). Mas algo que começou a
ser compartilhado nas redes sociais nessa semana conseguiu superar tudo isso. É
a ideia de que a divulgação dos resultados dessa pesquisa teria sido feita
nesse momento apenas para desviar a atenção da opinião pública de um escândalo bilionário de corrupção na Petrobrás. Como se os resultados da pesquisa, que revelaram uma face brutal
do machismo existente na nossa sociedade, fosse só uma cortina de fumaça
utilizada pelo malvado Governo Dilma para encobrir o “problema real” que é o
escândalo da Petrobrás. Pelo jeito, na cabeça de boa parcela da nossa população,
mulher que usa roupa curta não só merece ser estuprada como esse é um “problema
menor” frente aos problemas de corrupção. Como se a existência de uma cultura
do estupro não fosse um problema tão ruim quanto, ou mesmo pior, do que a existência
de uma cultura de apropriação e dilapidação do patrimônio público. O Brasil deve ser o único país do mundo onde se mascara o ruim com o pior. Pior sim! Porque o machismo mata mulheres todos
os dias, enquanto o escândalo da Petrobrás é apenas mais um caso de corrupção
no meio de tantos outros.
Algumas pessoas podem argumentar que a corrupção é pior porque afeta a sociedade como um todo, enquanto o machismo atingiria apenas uma parcela da população. Se você pensa assim, provavelmente, é porque faz parte da parcela que não é afetada pelo cotidianamente pelo machismo. Ou melhor, pensa que faz. Porque essa parcela não existe. O machismo não é um problema só das mulheres. É um problema para os homens também. É um problema de toda a sociedade. algumas pessoas acham que não existe machismo no Brasil. E que o machismo é criado pelas próprias mulheres. Principalmente por “feministas mal-amadas”. Nada mais machista do que esse pensamento. Entre essas pessoas certamente estão aquelas que acreditam que o machismo é um problema menor, ou que os dados da pesquisa do IPEA são apenas uma cortina de fumaça. E, antes que eu me esqueça, não existe algo chamado “femismo”, como um oposto simétrico do machismo. Como tenho lido por aí. Isso é mais uma criação... do machismo. Assim, não existe essa hierarquização dos problemas sociais que essas pessoas estão criando. Os dois problemas devem ser igualmente combatidos. Até mesmo porque, ao fim e ao cabo, esses dois problemas estão interligados como duas facetas de uma mentalidade privatista onde tanto o patrimônio público quanto as mulheres são vistas como propriedade privada.
Algumas pessoas podem argumentar que a corrupção é pior porque afeta a sociedade como um todo, enquanto o machismo atingiria apenas uma parcela da população. Se você pensa assim, provavelmente, é porque faz parte da parcela que não é afetada pelo cotidianamente pelo machismo. Ou melhor, pensa que faz. Porque essa parcela não existe. O machismo não é um problema só das mulheres. É um problema para os homens também. É um problema de toda a sociedade. algumas pessoas acham que não existe machismo no Brasil. E que o machismo é criado pelas próprias mulheres. Principalmente por “feministas mal-amadas”. Nada mais machista do que esse pensamento. Entre essas pessoas certamente estão aquelas que acreditam que o machismo é um problema menor, ou que os dados da pesquisa do IPEA são apenas uma cortina de fumaça. E, antes que eu me esqueça, não existe algo chamado “femismo”, como um oposto simétrico do machismo. Como tenho lido por aí. Isso é mais uma criação... do machismo. Assim, não existe essa hierarquização dos problemas sociais que essas pessoas estão criando. Os dois problemas devem ser igualmente combatidos. Até mesmo porque, ao fim e ao cabo, esses dois problemas estão interligados como duas facetas de uma mentalidade privatista onde tanto o patrimônio público quanto as mulheres são vistas como propriedade privada.
Na verdade, está claro para mim que essa ideia só tem a intenção
de disseminar o sentimento de que o Governo Dilma está “acabando com o país”. Como
se esse governo tivesse inventado a corrupção. Ninguém é obrigado a gostar do
Governo Dilma. Eu também não gosto. Mas defender a qualquer custo a ideia de
que a Dilma é o pior dos nossos problemas, diminuindo a importância de problemas
como o(s) revelado(s) pela pesquisa do IPEA é, no mínimo, uma grande miopia.